sábado, 25 de agosto de 2012

A dor que veio de Nottingham


Costumava ir à Roma Megastore do Porto, junto à Rua de Santa Catarina, para ver a música que se editava e que nem sempre tinha destaque nos jornais. Os funcionários da loja eram excelentes conhecedores de discos (penso talvez até fizessem as encomendas da loja segundo os seus gostos pessoais) e davam sempre óptimas “dicas” sobre os melhores álbuns de cada género. Conheci vários grupos e álbuns por causa deles.

Numa dessas "visitas", encontrei, por acaso, um álbum com rosas na capa. Peguei no CD, observei-o e trouxe-o comigo. Era a época em que eu comprava CDs por causa das capas. Tive sempre muita sorte com o que comprei. Desta vez, era o terceiro álbum dos Tindersticks.

Cheguei a casa e fui ouvir aquele “Curtains”: “Greed's all gone now, there's no question”, sussurrava a voz intimista de barítono do Stuart Staples, que me deixou imediatamente cativo.

A música dos Tindersticks é um estado de tensão constante e sem libertação possível. Até eles, ninguém tinha composto uma banda sonora tão boa para os dias tristes e vazios, para as relações falhadas, para os estados de alma com fracturas expostas, para as misérias e infortúnios humanos. Não é que eles façam música triste. Não é isso. Apenas fazem música com um travo sombrio e um romantismo mais amargo.

A música do “Curtains” é de uma beleza delicada e difícil de descrever. As cordas do violoncelo surgem sempre como lâminas que nos golpeiam a alma, expondo-nos à realidade da incompreensão mútua das relações terminadas e ao vazio a que nos conduz o afastamento entre dois seres que se desencontraram. A orquestração teatral e a voz melodramática de Stuart Staples deslizam em canções hipnóticas, que exploram o que há de mais íntimo em nós.

Os Tindersticks têm um charme inexplicável e fizeram, de forma elegante, “Curtains”, que é um disco intencionalmente superlativo e marcante. Maravilhoso, sem dúvida.

O meu dia termina ao som de Tindersticks. Não há medo de ressacas.

2 comentários:

  1. Tindersticks!! Depois de os ver em Vilar de Mourous, no século passado, fiquei fã. Muito bom! Um abraço, João

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  2. É estranha a popularidade deles em Portugal. Consevo-os entre as minhas bandas favoritas...

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