Tenho o hábito de fazer balanços e definir objectivos em Outubro de cada ano.
Este ano decidi fazer uma lista de 35 objectivos a concretizar no até ao
dia 31 de Outubro de 2013 (para concretizar alguns, preciso da vossa ajuda). A
lista ficará visível num link ao lado e farei updates, à medida que for
completando as tarefas.
Aqui está a lista do que decidi fazer (caso os
Maias falhem a previsão do fim do mundo em
2012):
1. Ler um livro a cada dois
meses
2. Comer uma refeição completa, cozinhada com
coentros (entrada, sopa e prato)
3. Escrever, em cada semana, pelo menos quatro posts no blog
4. Fazer feliz alguém que não
conheça
5. Fazer feliz alguém que
conheça
6. Comprar uma boa máquina fotográfica
7. Organizar um jantar ou um almoço de família
(daqueles que incluem primos e tios)
8. Doar sangue e
inscrever-me no banco de dadores de medula óssea
9.
Assistir a um amanhecer na praia
10. Organizar a minha
roupa por conjuntos e fotografar, para ser mais fácil vestir-me sem parecer um
desastre
11. Plantar uma árvore
12. Assistir a cinco concertos de música
13. Organizar uma caminhada a pé pela linha do Tua;
14. Fazer Canoagem
15. Organizar a minha música
16. Escrever uma história
17.
Redecorar a minha sala
18. Fazer um jantar em casa com
amigos (mínimo, quatro pessoas à mesa), pelo menos uma vez por mês
19. Fazer uma arrumação profunda em casa e desfazer-me
do que não me faz falta
20. Comprar um frigorífico
combinado
21. Fazer uma fornada de pão (em forno a
lenha) e oferecer aos meus amigos
22. Perceber quem
são os meus amigos em dificuldades e ajudar a abastecer-lhes a dispensa, sem que
eles se sintam mal por isso
23. Visitar os meus
padrinhos regularmente (pelo menos de dois em dois meses)
24. Fazer três viagens
ao estrangeiro
25. Iniciar um curso de escrita
26. Ir duas vezes ao estádio do Dragão ver
futebol
27. Passar um fim-de-semana só com os meus
sobrinhos
28. Fazer campismo
29.
Confeccionar doces e compotas para oferecer
30. Fazer (pelo menos) cinco provas de atletismo
31. Participar em acções de
voluntariado
32. Participar num concurso (televisão,
rádio, escrita, etc)
33. Pintar o meu
quarto
34. Ter (pelo menos) um dia de "mimo" para mim,
com massagem, piscina, etc
35. Beijar debaixo da Torre
Eiffel
Se conseguir, serei muito mais feliz.
quarta-feira, 31 de outubro de 2012
segunda-feira, 29 de outubro de 2012
Mais um que parte...
Uns resistem o que podem, outros não têm alternativa. Para vários amigos, a saída do país tornou-se uma inevitabilidade. Procurar noutro país, uma vida melhor do que a que tinham cá é a razão que todos apontam. A inevitabilidade desta saída é resultado de meses consecutivos de desemprego e de falta de esperança num futuro melhor cá.
O Gonçalo Silva é um bom amigo. Na quinta-feira vai iniciar uma nova caminhada, longe dos amigos e da família e isso merece a minha admiração, porque sei que não seria fácil para mim fazê-lo. Não é fácil para ninguém.
Com ele, passei alguns dos momentos mais animados da minha vida. É um excelente contador de histórias e tem um sentido de humor único. Carrega sempre um enorme sorriso e tem sempre uma gargalhada pronta a dar.
No momento difícil que passou recentemente, teve sempre uma palavra de carinho e preocupação comigo e com a minha vida.
É assim o Gonçalo: bem disposto e generoso.
Na sexta-feira passada jantámos uma vez mais juntos, mas só nos preocupámos em falar muito. Para nós, a conversa é o combustível das noites bem passadas. Rimos bastante e quase disputámos o troféu da história mais picante e bem-disposta, mas as dele são sempre melhores que as minhas (até porque ele é o melhor de nós dois).
Quando fez trinta anos, tive a honra de ajudar a preparar a festa surpresa que lhe fizemos e que o deixou felicíssimo. Agora, tento reunir os companheiros de treinos, jogos, ensaios, "avants", "rucks" e "mauls" para que lhe possamos dar um enorme abraço.
Longe, estaremos a torcer pelo sucesso dele e pela melhoria das condições que o façam regressar.
Post Scriptum: Quando me preparava para terminar este texto fiquei com os olhos rasos de água e de saudade, que teimosamente se antecipa ao abraço que daremos antes de partir. Prometo, Gonçalo, que será a única vez que o farei por ti. Quero que as gargalhadas que deste connosco, ocupem o vazio que a tua ausência vai deixar em nós todos.
sexta-feira, 12 de outubro de 2012
Já não há raspas de madeira pelo chão
A minha vida foi sempre fortemente marcada por cheiros de coisas. Lembro-me de alguns: o cheiro das uvas morangueiras da casa do “Manel Zé” e que chegavam até à entrada do café, o cheiro do fumo dos cigarros “Português suave sem filtro” que o Abílio me mandava comprar (e ficar com o troco) no “Borracha”, o cheiro do "Lagar de Azeite do Carvalhal" no tempo da azeitona, o cheiro a pó nos primeiros dias de chuva, no Outono…
Um dos cheiros cuja memória frequentemente me assalta, foi o da pequena oficina do senhor Albino Simões, que trabalhava madeira. Quando a minha mãe ia a casa da Menina Rosa (na minha aldeia, todas as senhoras são ainda “meninas”) e me levava, havia coisas que eram para mim momentos de puro deleite: sentava-me no pequeno muro, junto à torneira em frente à oficina e bebia água numa pequena malga de inox, ainda que não tivesse sede. A menina Rosa dava-me sempre uns bolos pequenos e secos, que eu ainda hoje devoro quando a minha mãe os compra. Enquanto elas conversavam, eu ficava ali sentado, a olhar para a oficina e a beber água, como se estivesse no deserto marroquino. Quase que consigo sentir ainda hoje o sabor daquela pequena tigelinha, que estava presa à torneira com uma corrente frágil. Ficava também a ver o Senhor Albino Simões a trabalhar a madeira.
Muitas vezes, porque tinham uma horta perto da minha casa, o senhor Albino Simões e a menina Rosa, passavam e paravam em minha casa. Eram ambos muito amigos dos meus pais. Eram (e ainda são) como se fossem da família. O senhor Albino parava a bicicleta em frente à minha casa e entrava, para ir beber um copo de água pé com o meu pai e ali ficavam os dois à conversa. A caça era dos assuntos mais debatidos.
Quando ele entrava, falava sempre connosco com aquela voz forte e grave que só ele tinha e que fazia com que ficássemos presos a tudo o que nos dizia. Era um homem grande em todos os sentidos, ou eu, por ser mais pequeno, sempre senti que ele era um homem imenso. Tinha um coração generoso, que se revelava sempre demasiado mole para com a Mónica, que era a neta mais velha e (tenho a certeza), a preferida.
Quando a doença o desafiou para a luta, resistiu enquanto conseguiu. Fui vê-lo várias vezes a casa e a Coimbra e embora aquele corpo se tenha modificado e mutilado, ofereceu sempre a amabilidade que colocava em tudo o que fazia e falou-me sempre com aquela voz carregada de força, mesmo quando as forças já eram poucas.
Hoje, quando vejo a Mónica, descubro nela muito daquilo que o avô lhe deixou: um coração enorme, que se amolece com demasiada facilidade perante as pessoas de quem realmente gosta.
Ainda hoje a minha mãe costuma ficar à conversa com a menina Rosa. Ainda hoje existe a malga fragilmente presa à torneira. Já não existe o cheiro da oficina nem o som da plaina a desgastar a madeira nem raspas pelo chão. Há, em casa da minha mãe, umas prateleiras que o senhor Albino nos fez. Há a lembrança daquele homem grande, que foi sempre íntegro e digno e de quem hoje me lembrei com saudade.
Um dos cheiros cuja memória frequentemente me assalta, foi o da pequena oficina do senhor Albino Simões, que trabalhava madeira. Quando a minha mãe ia a casa da Menina Rosa (na minha aldeia, todas as senhoras são ainda “meninas”) e me levava, havia coisas que eram para mim momentos de puro deleite: sentava-me no pequeno muro, junto à torneira em frente à oficina e bebia água numa pequena malga de inox, ainda que não tivesse sede. A menina Rosa dava-me sempre uns bolos pequenos e secos, que eu ainda hoje devoro quando a minha mãe os compra. Enquanto elas conversavam, eu ficava ali sentado, a olhar para a oficina e a beber água, como se estivesse no deserto marroquino. Quase que consigo sentir ainda hoje o sabor daquela pequena tigelinha, que estava presa à torneira com uma corrente frágil. Ficava também a ver o Senhor Albino Simões a trabalhar a madeira.
Muitas vezes, porque tinham uma horta perto da minha casa, o senhor Albino Simões e a menina Rosa, passavam e paravam em minha casa. Eram ambos muito amigos dos meus pais. Eram (e ainda são) como se fossem da família. O senhor Albino parava a bicicleta em frente à minha casa e entrava, para ir beber um copo de água pé com o meu pai e ali ficavam os dois à conversa. A caça era dos assuntos mais debatidos.
Quando ele entrava, falava sempre connosco com aquela voz forte e grave que só ele tinha e que fazia com que ficássemos presos a tudo o que nos dizia. Era um homem grande em todos os sentidos, ou eu, por ser mais pequeno, sempre senti que ele era um homem imenso. Tinha um coração generoso, que se revelava sempre demasiado mole para com a Mónica, que era a neta mais velha e (tenho a certeza), a preferida.
Quando a doença o desafiou para a luta, resistiu enquanto conseguiu. Fui vê-lo várias vezes a casa e a Coimbra e embora aquele corpo se tenha modificado e mutilado, ofereceu sempre a amabilidade que colocava em tudo o que fazia e falou-me sempre com aquela voz carregada de força, mesmo quando as forças já eram poucas.
Hoje, quando vejo a Mónica, descubro nela muito daquilo que o avô lhe deixou: um coração enorme, que se amolece com demasiada facilidade perante as pessoas de quem realmente gosta.
Ainda hoje a minha mãe costuma ficar à conversa com a menina Rosa. Ainda hoje existe a malga fragilmente presa à torneira. Já não existe o cheiro da oficina nem o som da plaina a desgastar a madeira nem raspas pelo chão. Há, em casa da minha mãe, umas prateleiras que o senhor Albino nos fez. Há a lembrança daquele homem grande, que foi sempre íntegro e digno e de quem hoje me lembrei com saudade.
quinta-feira, 11 de outubro de 2012
Em Copenhaga, choveu no último dos dias
A única vez que fui ao Brasil foi há nove anos, na minha viagem de finalistas. Surpreendentemente, aqueles dias foram tão intensos, que regressei completamente vazio. Cheguei a casa, refiz a mochila para o frio que o norte da Europa ainda tinha em Abril, escolhi 2 ou 3 livros policiais e lá fui, de novo.
Embarquei ao final do dia no Entroncamento, rumo a Paris. No mesmo compartimento que eu ia uma senhora de preto, da cabeça aos pés e a quem não ouvi uma palavra, até à sua saída em S. Sebastian. “Boa viagem”, disse-me.
Em Paris, procurei ficar alojado uma noite perto de Montmartre, para poder caminhar por ali a pé e ficar sentado horas perdidas na escadaria do Sacre Coeur a ver a cidade iluminar-se a meus pés. A segunda parte da viagem fez-se no dia seguinte. Na Gare du Nord, apanhei o comboio que atravessava a Alemanha durante a noite. É sozinho que gosto de viajar porque imagino sempre que um dia teria alguém que aguardasse a minha chegada em algum lugar. Quando viajamos com outras pessoas, não há essa sensação de frágil segurança…
Ainda a tempo do pequeno-almoço, chego a Copenhaga. Procuro um sítio para a minha primeira refeição do dia e alojamento. Encontrei um pequeno hostel perto do Tivoli e por ali fiquei, desenhando um plano para a cidade.
Para mim, visitar uma cidade significa passar horas seguidas num café de uma praça ou rua, a ver demoradamente as pedras das casas e do chão. A escutar os borburinhos naturais da cidade e a prestar atenção ao silêncio do tempo a passar, demorado.
Tirei as habituais fotografias para mostrar aos outros, já que raramente fotografo para mim. Saboreei cada um dos dias ali passados, deliciando-me com a delicada neblina matinal que pairava na zona do porto da cidade. As tardes, a espaços soalheiras, eram sedutores convites a ficar mais tempo na rua, observando.
No último dos cinco dias ali, choveu. As ruas estavam limpas e vazias como o meu coração.
Peguei em tudo e regressei.
Eu regresso sempre.
Em Paris, procurei ficar alojado uma noite perto de Montmartre, para poder caminhar por ali a pé e ficar sentado horas perdidas na escadaria do Sacre Coeur a ver a cidade iluminar-se a meus pés. A segunda parte da viagem fez-se no dia seguinte. Na Gare du Nord, apanhei o comboio que atravessava a Alemanha durante a noite. É sozinho que gosto de viajar porque imagino sempre que um dia teria alguém que aguardasse a minha chegada em algum lugar. Quando viajamos com outras pessoas, não há essa sensação de frágil segurança…
Ainda a tempo do pequeno-almoço, chego a Copenhaga. Procuro um sítio para a minha primeira refeição do dia e alojamento. Encontrei um pequeno hostel perto do Tivoli e por ali fiquei, desenhando um plano para a cidade.
Para mim, visitar uma cidade significa passar horas seguidas num café de uma praça ou rua, a ver demoradamente as pedras das casas e do chão. A escutar os borburinhos naturais da cidade e a prestar atenção ao silêncio do tempo a passar, demorado.
Tirei as habituais fotografias para mostrar aos outros, já que raramente fotografo para mim. Saboreei cada um dos dias ali passados, deliciando-me com a delicada neblina matinal que pairava na zona do porto da cidade. As tardes, a espaços soalheiras, eram sedutores convites a ficar mais tempo na rua, observando.
No último dos cinco dias ali, choveu. As ruas estavam limpas e vazias como o meu coração.
Peguei em tudo e regressei.
Eu regresso sempre.
Regresso ao trabalho
Depois de uns dias de férias, é, para mim, sempre muito difícil o regresso ao trabalho. O corpo habituou-se rapidamente a rotinas de total liberdade e desabituá-lo não é tarefa fácil.
O primeiro dia depois do regresso das férias, rende sempre pouco. Há assuntos que se acumularam, esperando o regresso de quem os trate.
Estes dias de regresso têm sido suavemente dolorosos, como quem força um pequeno riacho a sair do seu curso natural.
Tenho tentado colocar tudo em ordem e hoje voltei ao desporto. Um excelente treino de rugby ao final do dia e depois, uma pequena corrida, com excelente banda sonora, junto ao rio antes de jantar e dormir.
Nestes dias, recordo sucessivamente com os amigos e com os colegas de trabalho, os dias de férias. É como se vivesse de novo a papel químico as mesmas coisas, mas muito resumidamente.
O primeiro dia depois do regresso das férias, rende sempre pouco. Há assuntos que se acumularam, esperando o regresso de quem os trate.
Estes dias de regresso têm sido suavemente dolorosos, como quem força um pequeno riacho a sair do seu curso natural.
Tenho tentado colocar tudo em ordem e hoje voltei ao desporto. Um excelente treino de rugby ao final do dia e depois, uma pequena corrida, com excelente banda sonora, junto ao rio antes de jantar e dormir.
Nestes dias, recordo sucessivamente com os amigos e com os colegas de trabalho, os dias de férias. É como se vivesse de novo a papel químico as mesmas coisas, mas muito resumidamente.
Falar sobre as férias ajuda-me a regressar à rotina, como se a vida de férias e a vida a que retomamos se diluam uma na outra, em que a rotina do dia-a-dia vai ganhando espaço até se impor, lentamente a tudo o resto, deixando apenas nos cantos da memória, os acontecimentos daqueles dias em que, para mim, a liberdade é absoluta e as horas são uma medida de referência quase sempre ignorada.
Eu gosto de regressar. É bom estar de volta. Tive saudades...
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