segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Primeiro dia na escola

Fui criado numa aldeia pequena, em absoluta liberdade. Acordava, pegava nas minhas coisas e ia para a rua. Havia pouca gente com carro e por isso, era possível passar o dia inteiro deitado na estrada a fazer desenhos com bocados de tijolo ou a jogar à bola, sem que passasse qualquer viatura. Quando muito, uma motorizada, que se desviava de nós. Só via a minha mãe para almoçar, lanchar e jantar. Fora isso, era para andar na rua ou pendurado nas árvores na brincadeira.

Por vezes ia com a minha mãe para o campo. Pequeno, não ajudava em nada, mas entretinha-me com qualquer coisa. Tenho uma vaga ideia de ter acompanhado a minha mãe na época da azeitona, e ter ficado uma tarde inteira a brincar com os desperdícios vermelhos que servem de “casca” do queijo flamengo e paus pequenos de oliveira. Quando somos pequenos, não precisamos de muita coisa para sermos felizes…

Um dia, tive que ir para a escola.

Lembro-me que a minha mãe me foi deixar lá e que disse à professora que, caso eu me portasse mal, me podia dar umas bofetadas (parece que estava a adivinhar). Os outros miúdos entraram e eu fiquei com a minha mãe, à porta. Até que ela me disse para eu entrar e eu perguntei, espantado “mas também é para eu ir?”. Como era para ir, lá fui…

Na minha aldeia, porque éramos 33 alunos no total, ficámos todos na mesma sala. Na primeira classe, éramos apenas quatro: eu, o Luís, a Natália e o Zé. Mais tarde, veio (transferido de outra escola), o João Pedro.

Aquele dia não foi muito diferente do que se passará hoje por este país fora, no primeiro dia de aulas. Tenho apenas uma recordação mais “forte”: eu, o Zé e o Luís, decidimos saltar de “carteira” em “carteira”, fazendo rimas com os nomes dos outros miúdos (Bela panela, João ratão, etc). Uma vez desrespeitados os avisos para parar, fomos agarrados pela D. Mariazinha, que nos encostou à parede e nos deu 20 réguadas em cada mão.

Não sei se isso me fez mal, se me tornou mais amargo ou se me trouxe problemas psicológicos. Sei é que no primeiro dia de escola aprendi a contar até 20… e que se tornou urgente aprender a ler e a escrever para melhorar o nível das rimas que eu quisesse fazer dali em diante.

5 comentários:

  1. Tu querias era reguadas era o que era. lol

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    1. eu era um rapaz incompreendido... ainda hoje, penso que foi uma grande injustiça. Quanto muito, eram duas bofetadas

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  2. Eu nem me lembro do meu primeiro dia de escola, só sei que lá podia brincar com os outros miudos...

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    1. Comigo era a limitação de brincar com os outros meninos. Passava a ter horas para brincar, o que era absurdo

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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