quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Solidão a dois

A solidão é um estigma pesado com o qual nem todos estamos preparados para lidar. Algumas pessoas acabam por se envolver afectivamente, apenas para não estarem sós. Muitas vezes, o que acontece é ainda mais dramático e as pessoas acabam por enfrentar uma situação de solidão pior: sentirmo-nos sós, estando acompanhados.

Estar acompanhado não significa que não se está completamente só. Estar sozinho não significa que se está só. Viver na solidão não quer dizer que não se tem companhia para se estar. Significa que as pessoas que nos rodeiam (muitas vezes dentro do casal) não compreendem as nossas palavras ou as nossas acções. Sentirmo-nos sós numa relação, significa que percebemos claramente que o outro nunca nos completará.

É muito difícil explicar a quem nos rodeia, que estamos na mais profunda solidão, ainda que sejamos alvo do respeito e admiração de muita gente. A solidão a dois é o sentimento de abandono na presença de outra pessoa. E é isso que deve ser combatido.

Um destes dias, uma amiga minha falava-me da indiferença do marido, face aos problemas no trabalho que ela tem tido e partilhado com ele, obtendo como respostas, apenas monossílabos e o corte das conversas a meio com assuntos insignificantes. A solidão começa muitas vezes no silêncio. As pessoas esquecem-se que as relações afectivas não são meras trocas nem jogos de interesse: eu dou afecto e recebo afecto. Há que haver equilíbrio nos sentimentos e nos comportamentos.

Quem nunca viu, num restaurante, um casal que não fala durante toda a refeição? Quem não conhece casos de casais que passam a vida a arranjar estratégias, na tentativa de adiar o mais possível o encontro em casa, a dois? Há até quem tenha filhos para não estar só…

Nas relações, é muito importante a conversa franca, sem medo de dizer coisas desagradáveis, mas sentidas. O diálogo aberto e honesto acaba por (ajudar a) resolver a maioria dos problemas de um casal.

O que interessa, afinal de contas, é acreditarmos que vale a pena fazer alguma coisa e darmo-nos ao trabalho de avançar.

2 comentários:

  1. É por essas e por outras que dou pouco valor á beleza fisica, e mais á da cabeça e do coração.

    E depois nem queria na minha vida pessoas que não se sentem bem nela.

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  2. A questão é quando não conseguimos sair do estado de abandono a que fomos votados por quem está connosco, por não sentirmos que é, de facto, melhor estar só do que mal acompanhado...

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