quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

A saída

De cada vez que deixo a minha aldeia rumo a Lisboa, aumenta a falta que aquele chão me faz. Em nenhum outro sitio me sinto tão em paz como ali. Há pessoas que me conhecem desde que nasci, que me tratam com enorme respeito, quando são essas pessoas, alvo da minha maior admiração.

Saí da minha aldeia há 17 anos. Saí porque tinha definido um rumo para a minha vida e queria concretizá-lo. Há pessoas que decidiram ficar ali para sempre. Pensei que era por serem menos ambiciosos do que eu.

Descubro a cada visita, que era na minha aldeia que eu devia ter sempre ficado. É lá que me descubro e que me descobrem. É ali que encontro quem me abraça e sorri tão genuinamente ao ver-me.

Há pessoas que, por velhice, foram obrigadas a sair de suas casas para serem internadas em lares de idosos. Ao ouvi-los, descubro-lhes a mágoa desse abandono forçado e penso no meu, voluntário e ambicioso.

Quantos mais dias passam, mais perto estou de regressar à minha aldeia e ao convívio diário com quem me quer tão bem, sem outro interesse que não o meu bem-estar.

Se mais razão não houvesse, bastar-me-iam as lágrimas emocionadas de pessoas que me pegaram tantas vezes ao colo e que hoje, quase sem forças para se levantarem e caminharem, ainda me abraçam, firmes, com pena de mais uma despedida.

Eu vou voltar.


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